Muitos produtores agrícolas sabem que plantar feijão é uma atividade que requer muita habilidade e, sobretudo, sorte; pois a leguminosa mais consumida pelos brasileiros é muito sensível às intempéries e precisa de, no mínimo, boas condições meteorológicas para cumprir todas as etapas até chegar à colheita.
Nos últimos dez anos, o município de Euclides da Cunha tem se destacado pela excelente produção de feijão, especialmente do tipo carioca, o mais consumido pela maioria da população, que também gosta do feijão de corda, bastante usado na culinária brasileira, na preparação de feijão tropeiro e do famoso acarajé baiano.
Outros tipos de feijões também se destacam, a exemplo do feijão preto, bastante usado na preparação de suculentas e deliciosas feijoadas; feijão branco para dobradinha, rosinha. Enfim, feijões para todos os gostos e pratos servidos em restaurantes chiques, populares e, especialmente, nos chamados bandejões.
Euclides da Cunha também produz feijões dos tipos: preto, feijão rosinha, branco, entre outros, produzidos em menor escala, mas que alcançam preços bem melhores que o tradicional carioca.
Nesse período de safra muitos compradores de Pernambuco, Alagoas, Piauí, São Paulo e Paraná são vistos na cidade e levam, em média, 150 sacas, em pequenos caminhões, mais de 400 em caminhões truques e grandes quantidades em carretas e bitrens.
Boa parte desses feijões especiais é vendida para restaurantes de capitais nordestinas, para preparação de iguarias, especialmente servidos na alta estação, quando milhares de turistas visitam a região e dá preferência aos pratos regionais que tem o feijão como ingrediente principal.
O crescimento da produtividade de feijão registrada em Euclides da Cunha é muito bom. Em 2008, o município ostentava a 11ª posição no ranking de produtores de feijão.
Em 2010, o município tornou-se primeiro colocado entre os produtores de feijão de sequeiro (produzido em área não irrigada) do Brasil, com 45.000 hectares de área plantada, segundo informações do Engº Agrônomo Robério Lívio de Abreu gerente da EBDA, e produtor agrícola, em Euclides da Cunha.
Esse crescimento espetacular da cultura de feijão merece atenção especial da Embrapa, que precisa mandar para o município, uma equipe de técnicos para pesquisa e estudos das condições climáticas e do solo, orientar os produtores sobre manejo de solo e de cultura, objetivando aumentar a produtividade com agregação de valores.
Bartô, produtor agrícola que incentiva o uso de fertilizantes e defensivos agrícolas para aumentar a produtividade e conta com o apoio técnico de seus fornecedores de insumos na orientação e aplicação desses produtos, também reclama da ausência de técnicos do governo em
Euclides da Cunha.
Apesar de as chuvas terem castigado as lavouras de regiões como Campo Grande, Serrania, Ruylândia, - que em safras anteriores tiveram boa produtividade, entre outras, gerando perdas de produção na ordem de 30%, Euclides da Cunha terá uma safra calculada em 700 mil sacas, podendo chegar à casa das 810 mil, totalizando 4.200 toneladas.
Com esses números, os órgãos governamentais e instituições de crédito não podem fechar os olhos e nem ficar ausentes do município que tem a maior área plantada de feijão de sequeiro do Brasil. A maioria dos produtores plantou com recursos próprios.
As regiões que mais se destacaram na produtividade são: Vila Nova Canaã, Santo Antônio, Araçás, Sítio do Jaime, Mutambinha, Serra Branca, Mangues, Caimbé, Carnaíba e Baixas. Em algumas destas propriedades estão sendo colhidas 12 sacas ou mais por tarefa.
As chuvas, que em 2010 chegaram mais cedo, animaram os produtores que não perderam tempo e deram início à preparação de terras para o plantio. Em vários lugares choveu tanto que ficou impossível arar, gradear, plantar.
Na região do distrito de Caimbé, onde no assentamento de Vila Nova Canaã os assentados estavam animados com a perspectiva de excelente colheita, viram, de repente, a lavoura trocar boa parte do verde pelo amarelo e as vagens ficarem manchadas, por causa do excesso de chuva, recuperaram o ânimo com a chegada do sol e vão produzir mais uma grande safra.
Como se não bastasse, em outras áreas produtoras, a antracnose – doença que inibe o crescimento da planta que fica muito tempo em ambiente de temperatura abaixo de 21°C e umidade do solo acima de 90% afetou grandes plantações.
Quem teve condições de tratar o problema, recuperou a lavoura e, com o fim das chuvas, certamente contará com a elevação do preço do produto e vai recuperar o investimento extra com o uso de produtos químicos de combate às doenças e pragas provocado pela baixa umidade.
Aliás, plantar feijão é atividade de alto risco e os produtores, grandes, médios e pequenos sabem muito bem disso. Há quem diga que “plantar feijão é loteria”.
Outra preocupação dos agricultores está relacionada a uma planta conhecida vulgarmente como zabumba, que de dois anos para cá, tem provocado grande prejuízo aos produtores, pois cresce bastante e muito rapidamente provoca o afogamento da lavoura.
Em conversa com alguns produtores rurais, a reportagem do site euclidesdacunha.com obteve informações duvidosas sobre a origem desta planta que tem tirado o sossego de quem planta feijão em terreno adubado com fertilizante químico, principalmente.
Um produtor prejudicado pela infestação da zabumba disse: “a semente dessa planta daninha vem junto com o fertilizante, forma encontrada pelo fabricante para também vender o veneno que mata a planta invasora e assim ganhar mais dinheiro”.
A denúncia é merecedora de atenção por parte das autoridades responsáveis, pois, na realidade, os produtores de feijão e milho de Euclides da Cunha, nunca tiveram preocupação com esse tipo de planta invasora, enquanto o plantio era feito de forma tradicional, onde os solos com baixo índice de fertilidade eram adubados com estrume de gado.
Alguns disseram que a semente da zabumba vem junto com o fertilizante, enquanto outros relatam que as sementes são semeadas pelas garças vaqueiras ou boiadeiras, expelidas juntamente com as fezes dessas aves, que se espalham de forma muito rapidamente, pelos quatro cantos do sertão.
O site euclidesdacunha.com pesquisou e descobriu quer a zabumba é uma planta muito comum no Nordeste, e também bastante perigosa, pois é da família de plantas tóxicas. O que causa intriga é o fato de somente de dois ou três anos para cá, é que a zabumba ganhou destaque e fama de destruidora de lavoura.
Para Robério Lívio de Abreu, os relatos feitos pelos produtores não podem ser totalmente descartados. Segundo este engenheiro agrônomo, que não ratificou as acusações contra os fabricantes de adubos e defensivos químicos, outros fatores tem contribuído para disseminar a zabumba nas áreas de produção.
“Nos últimos anos, Euclides da Cunha passou a ocupar o primeiro lugar na produção de feijão de sequeiro, graças aos investimentos feitos pelos produtores em máquinas e equipamentos agrícolas. Muitos desses produtores vêm de outras regiões produtoras da Bahia e trazem equipamentos contaminados com a semente de zabumba (arado, grade, disco) usados na preparação de terras; falta de rotatividade na lavoura, ausência do plantio consorciado com o milho, como acontecia anteriormente, e isso pode ser fator importante na aparição e disseminação da zabumba por aqui,” disse.
Há quem diga que a zabumba é originária de regiões litorâneas e que chegou até Euclides da Cunha proveniente do Estado de Sergipe, passando por Adustina, Fátima e Cícero Dantas, municípios próximos, trazidas pelo vento ou sementes produzidas nesses municípios.
Na verdade, a planta tornou-se inimigo número 1 dos produtores rurais de feijão e milho, pois cresce muito rapidamente e sufoca a plantação impedindo o desenvolvimento da lavoura.
Até para colher, a zabumba dificulta a ação das máquinas que, em muitos casos, cresce tanto que o equipamento quase desaparece em meio à colheita, como mostra a fotografia que ilustra esta reportagem.
No final de mês de agosto, as chuvas diminuíram sensivelmente e o sol nos primeiros dias de setembro, pode representar aumento considerável na oferta de feijão. Já houve registro de saída de feijão novo para Curitiba-PR, onde a safra no estado, não foi boa.
Carretas Bitrem com placa de Goiânia são vistos na cidade e no meio rural, principalmente, nas regiões mais produtivas, onde compradores coletam o produto comprado diretamente ao produtor.
Os preços, que neste início de colheita variam entre R$ 70, a 85 reais, por saca de 60 kg, ainda não estão de acordo com o esperado pelos produtores agrícolas, que acreditam em melhor cotação do produto, com a oferta de feijão com índice de umidade mais baixo e sem manchas.
As regiões da Fazenda Mangues, Araçás, Santo Antônio, Baixas, Sítio do Jaime, Serra Branca, Caimbé, Carnaíba são apontadas como as mais produtivas em 2010.
Em algumas propriedades, a produtividade supera 12 sacas por tarefa, média considerada muito boa, principalmente, nas regiões onde choveu bastante, quando isso não deveria ter acontecido.
Bartô, proprietário de um centro automotivo especializado em venda de peças, manutenção, máquinas e equipamentos agrícolas, e também produtor de feijão em terras arrendadas, disse que a safra, apesar de ter sofrido quebra de 30%, pode superar a colheita de 2009. Duas colheitadeiras com capacidade para bater 600 sacas diárias, estão a serviço do empresário e produtor. Uma dessas máquinas que trabalham acopladas em um trator, já foi vendida para outro produtor agrícola.
Para trabalhar na tarefa de arrancar feijão, Bartô importou de outros municípios, cerca de cem trabalhadores, por dificuldades encontradas para conseguir pessoas no mercado local. “O que é muito pouco para o tamanho da safra” disse.
O sol está muito quente e a planta precisa ser arrancada o mais rapidamente possível, para não estourar a vagem e gerar perdas consideráveis. Esta preocupação é geral.
Famílias inteiras trabalham na colheita e ganham, por tarefa arrancada, 45 reais, em média, como mostra a reportagem, que ouviu o Sr. Ananias, que há 46 anos trabalha arrancando feijão e agora também vem acompanhado pela família que reside na Fazenda Tanque da Nação, próximo de Euclides da Cunha.
O trabalhador e família, que havia começado o expediente por volta de 6hs, às 9h, faziam uma pausa para o café, enquanto o feijão para o almoço era cozinhado em uma trempe à lenha. O solo secou rapidamente e os trabalhadores se queixam que ficou pior arrancar a planta. Há quem deseje até que dê uma ‘pancadinha’ de chuva para facilitar o trabalho.
Muitos são oriundos de outras cidades, já que em Euclides da Cunha não há mão-de-obra suficiente para atender às necessidades da colheita. Irecê, Teofilândia, Araci, Ribeira do Pombal, entre outros são fornecedores desses trabalhadores que aproveitam a safra para faturar um pouco mais.
Esses trabalhadores são encontrados nas estradas sendo transportados em caminhões do tipo pau-de-arara ou em ônibus velhos, desses que fazem o transporte escolar, como mostra a fotografia do site euclidesdacunha.com, na Rodovia Santos Dumont.
Muitos estão viajando em ônibus de linha regular e desembarcam no terminal rodoviário, onde são aguardados pelos contratantes que os conduzem até as propriedades. Por conta disso, alguns horários de chegada estão acontecendo com um pequeno atraso.
A alegria estampada no rosto e no gesto dos trabalhadores, inclusive mulheres, que viajavam na carroceria de um caminhão com placa de uma cidade sergipana, como mostra o flagrante fotográfico do repórter José Dilson Pinheiro, supera o medo de viajar num pau-de-arara. Afinal, vão ganhar um ‘dinheirinho’ na colheita do feijão e isso é o que mais importa, no momento.
Para o comércio local, espera-se que boa parte do capital circulante oriundo da compra e venda de cereais, safra 2010, fique por aqui, e aqueça a tão combalida economia municipal, que sobrevive graças aos recursos financeiros provenientes dos pagamentos dos programas sociais do Governo Federal.
É bom lembrar, que o financiamento bancário foi considerado insignificante, para o plantio da safra de feijão 2010, segundo informações de um produtor agrícola.
Agora, é torcer para que a safra de feijão 2010, em Euclides da Cunha mantenha a liderança do município no ranking nacional de maior produtor de feijão de sequeiro, como disse acima, e que boa parte do dinheiro proveniente da compra e venda de cereais fique por aqui, para o bem da cidade.
(Por: Blog ossertoesbahia /euclidesdacunha.com/Joilson Costa)
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